É um contrassenso quase cômico observar como algumas vozes, sobretudo aquelas confortavelmente instaladas em cargos públicos, levantam a bandeira da redução da jornada de trabalho como se fosse a panaceia para todos os males do trabalhador brasileiro.
Esses paladinos da “folga abundante” defendem que o trabalhador trabalhe três dias e folgue outros três, como se o sistema produtivo e econômico fosse um parque de diversões sem qualquer exigência de esforço contínuo. Parece que esqueceram – ou, mais provável, nunca entenderam – o que é gerir uma empresa, ainda mais no contexto sufocante da carga tributária brasileira.
Quem realmente se importa com o trabalhador, ou ao menos entende minimamente o que é manter um negócio, deveria voltar seus esforços para combater o peso brutal da tributação. Em vez disso, assistimos ao espetáculo de defensores da redução da jornada ignorando solenemente as necessidades operacionais das empresas.
Esses proponentes, muitos dos quais jamais precisaram se preocupar com o equilíbrio financeiro de uma organização, parecem não entender que empresas não são sustentadas pelo vento e que, se sufocadas por uma jornada de trabalho inflexível e custos operacionais inescapáveis, mais cedo ou mais tarde as portas fecham – levando consigo empregos. Em qualquer comércio ou empresa do setor privado, a realidade é bem diferente da bolha do serviço público, onde o salário está garantido independentemente da eficiência ou produtividade.
No comércio, o empresário precisa arcar com uma carga tributária exorbitante e, ainda assim, manter uma operação lucrativa, cumprir obrigações trabalhistas, pagar aluguel, energia, fornecedores e salários. A exigência de folgas mais frequentes, em vez de um alívio, representa uma despesa adicional e um desafio logístico para a continuidade das operações. Reduzir a jornada de trabalho não diminui a carga tributária; pelo contrário, só adiciona mais peso ao empresário, que já está com a corda no pescoço.
Em vez de oferecer condições reais para a prosperidade, debates como esses apenas alimentam uma ideologia míope e descolada da realidade, que acaba punindo quem gera emprego e desenvolvimento no Brasil.
Ao invés de promover soluções sustentáveis, essa defesa irresponsável de mais folgas ignora o ponto central: o verdadeiro problema não está na quantidade de horas trabalhadas, mas sim na quantidade absurda de impostos que empresários e trabalhadores pagam.
Que tal uma discussão séria sobre um modelo tributário mais leve e justo? Que tal um diálogo genuíno sobre a redução dos custos operacionais que sufocam o comércio e inviabilizam novos empregos? A verdade é que, no fim das contas, quem defende a “festa da folga” desconhece a realidade de um comércio em um país onde o empreendedor luta para sobreviver.
Essa é a realidade que precisa ser enfrentada e debatida – e não uma agenda de ilusões sobre folgas e descanso pagos por empresas que mal conseguem se manter de pé.
Opinião: Jornalista Sales Dantas.